Oh, não. Não
te desanimes. Há dias assim em que o cenário parece meio sem cor, riscado a
giz, poeirento, que nos faz lacrimejar os olhos. Mas não te desanimes.
Precisamos da poesia de tuas palavras. Precisamos da tua luz. Precisas, mais
que todos nós, irradiar a própria luz que trazes.
As trevas
não devem te assustar, pois sabes caminhar nas trilhas das sombras como os
lobos selvagens. Trazes a centelha da criação dentro de ti: já enfrentaste
tanta coisa – entre fogueiras, escuro da solidão, desesperos. Não desanimes
agora. É só mais um tempo que vai passar. As pessoas vão passar, bem como suas
palavras vazias, seus olhares invejosos, seus lamentos de desânimo. Somente alguns
vão ficar – aqueles que deixam essa mesma luz irradiar por dentro.
Não te
apegues a esses pequenos sustos, a esses olhares de soslaios, a esses
comentários insinceros.
Apega ao
calor da noite; à calmaria da tua solidão; à companhia das almas que realmente
te querem bem. Sabes que amigos são poucos. Sabes que as pessoas mais profundas
não são perceptíveis à aparência, é preciso mais. Apega à tua fé.
Não tenhas
vergonhas de te ser; mesmo que vistas máscaras às vezes – o que é um
desperdício de personalidade – mas mesmo que elas sejam realmente necessárias
às vezes, que seja apenas às vezes. Retira-as em tua casa, em teu convívio
profundo; retira-as quando estiver com outra alma irmã da tua – tu sabes, há
aqueles que te merecem. Retira-as.
Procura não
conviver com quem ou com o que te faz mal. Estamos cansados de repetir que não
precisamos provar nada pra ninguém, no entanto, estamos sempre preocupados com
o que os outros vão achar, vão pensar, vão falar, vão sentir... Não faça nada
que te faça mal porque alguém disse que é bom ou correto ou necessário...
Se tua
intenção não é causar o mal do outro, diria que já está amando-o como a ti e
que, portanto, não lhe causará mal. Então, amando a ti mesmo, não permitirás,
também , que lhe causem mal.
Erramos,
sim, mas erramos por ignorância ou porque precisamos sentir na pele o que
alguém, talvez, já nos havia alertado. Contudo, o erro é tentativa. A mudança
de atitude ou pensamento é persistência. O desânimo que tenta nos abater é
causado pela confusão deste mundo – há muitos caminhos, há muitas opiniões, há
muitas vivências, há muitas palavras.
Escolhe um
caminho. Tenha uma opinião. Eleja um exemplo. Decore uma frase. O erro é
tentativa. A mudança é persistência. A perseverança (em um sonho, objetivo,
projeto de tua própria vida) é amor consigo mesmo.
O mundo está
mudando: a geração é outra – e assusta; o clima não é mais o mesmo – adaptação;
não sabemos o que este século nos trará – fazer o melhor.
Talvez seja
uma jornada de aprendizados. Mas peço-te, não te desanimes. Olha a natureza ao
redor: aprende com ela, ela está sempre a nos falar. Olha-a. O comportamento
das árvores durante a seca; como os pássaros constroem seus ninhos; inspira-te
no voo das aves; observa a entrega de um cão; vê como os gatos mergulham em si
e meditam. Olha a natureza – não olhes apenas o noticiário, não escutes apenas
as lamentações; procura não dar tanto crédito só aos egoístas, aos que praticam
o mal, aos que têm um estranho prazer em ofender o outro a qualquer custo.
Sabe, é que
não quero que te desanimes. É que sei, de alguma forma, que trazes uma luz
muito grande em ti, e a confusão do mundo humano tenta ofuscá-la. Olha os
grandes exemplos que já passaram neste mundo e calaram ou confundiram
multidões. Talvez estejas apenas olhando as figuras erradas; ouvindo as
palavras desnecessárias; te apegando a sentimentos passados ou tímidos ou
cheios de medo.
Deixa tua
luz irradiar. Somos humanos e sei que o desânimo vai tentar nos abater sempre. Procura
te recarregar onde a energia flui; onde a palavra seja verdadeira, mas não
perca a poesia; onde haja luz – não é tão difícil de ver.
Não te
desanimes. Dá cor ao cenário, a cor que tu quiseres, o cenário é teu enquanto
aqui estiveres.
Elayne Amorim
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