Não tenho filosofia. Eu tenho poesia

Traduzindo procuras


Só se encontra algo na distração do momento...
Quem procura acha.
Ou pelo menos, é achado.
Se não procuras nada,
Podes ser a procura de alguém.
Não que tenhas sido perdido
Ou deixado,
Podes ser achado
Porque o Universo é construído
Em pares.
As partículas se atraem
Não importa a distância
Nem mesmo o tempo que demore.
A lógica da coisa é que estamos
Nos movendo para a frente
E em direção aos nossos opostos
Eles se atraem.
Não estamos perdidos
Apenas não fomos encontrados.

Podes achar uma árvore
E árvores não se perdem.
Podes achar o mar, achar a montanha,
Podes achar a rua, podes achar um olhar.
A vida se consiste numa procura
Não é uma aventura – a vida?
Não existe aventura sem procura.
Perdem-se coisas?
As que ficaram pelo caminho nunca foram suas
Estiveram sob seus cuidados...
Perdem-se pessoas?                         
As que ficaram pelo caminho nunca foram suas
Estiveram e acrescentaram...
Quem não sabe o que procura é porque apartou-se de si mesmo.
Não saber o que se procura é apenas uma sensação,
Não sei...
Resposta ambígua, fuga, medo de perguntar;
O que procuro?
Sei como, quando e exatamente vou encontrar...
Procuro
Encontro silêncios
Procuro
Encontro palavras
Procuro
Encontro encontros
Procuro
Encontro sorrisos
Procuro
Encontro mistérios
Procuro...
Procuro mais...
E quanto mais procuro
Encontro
...  ...  ...  ...
Encontrei-me numa esquina em frente ao espelho certa manhã
Fogo nos cabelos e nos olhos brilho
Os lábios traziam um sorriso monalítico
No silêncio brando de mim, escutei...
Minha procura nunca chegaria ao fim
O fim seria a plenitude e toda plenitude que possuo
Cabe bem dentro de um segundo fugaz

Procurar é remexer em gavetas, desarrumar as roupas
Arrastar móveis, retirar e deixar tudo fora do lugar.
Procurar é buscar, buscar é correr atrás de uma coisa
Que não se sabe bem ao certo onde está, mas sabe que está.
Procurar pode causar desespero e aflição,
Mas o processo – sair, desarrumar, voltar, reolhar,
Cometer várias vezes o mesmo erro – é ansiosamente bom.
Passados lágrimas e sufocos, depois de alguns xingamentos,




O que procuras, quando olhas pra mim desse jeito?
O que procuras, quando me toca, de leve,
Como se pudesse no menor movimento, machucar-me?
O que procuras?
O que tenho para te dar pode ser pouco – ou nada –
De ínfimo valor como versos ou meras metáforas,
Como a companhia longínqua quando a noite se cala

O que procuras?
Se pareces já ter encontrado em outros braços
Enquanto que os meus vazios, distantes,
Se dilaceram na solidão, abraçando-se sozinhos
O que procuras, quando dizes, quando me ouves
O que procuras, quando me cedes matéria prima
Para eu compor meus versos, estás em meus versos...

Mas, o que procuras? O que buscas?
Quando escondes tuas pretensões em olhares de mistério
Quando me chamas, deixando-me em chamas
E ajo num cessar-fogo todos os dias, pois não posso...
Já tens outros braços seguros que te esperam
Mas... o que procuras em meio às minhas palavras,
Em meio aos meus ais, risos, em meu olhar...

Não podes ver que tua procura poderia cessar...?
A procura se resume em pequenos des-encontros
Consigo mesmo - com o outro,
Com o nada dentro de tudo que ocupa o vazio repleto de si.

Sinto que sempre procurei algo, desde criança. Eu olhava por detrás das árvores, dentro dos sulcos orvalhados das folhas, levantava raízes, remexia o fundo de pequenos lagos. Procurava. Olhava o céu azul imaginando o que havia por trás dele, algo que a noite revelava – porém escondia, eu sabia – o que há atrás do escuro, como é o lado oposto da Lua? Fotografias mentem, os homens mentem, os olhos humanos mentem. Eu sabia que havia mais.
Procurava.                            
Dentro de livros, por entre palavras, no entremeio das músicas, dentro do cheiro das coisas... Procurava. Cresci procurando e aprendendo sempre a procurar cada vez mais. Até que a procura desvendou-se em algo sem fim – estranhamente – a procura parecia ser o próprio fim, um fim em si mesma. Procurar por respostas, procurar por melhoras, por metáforas novas, novas histórias... Procurar, procurar, procurar...
Há momentos em que a procura congela-se, como se se congelasse um tempo: o simples galopar, um verso estupendo, o precioso mistério guardado num olhar...
E depois, me volto a procurar, mais e mais, eu sei, um dia vou encontrar; o que eu já encontrei minha poesia pode contar...
por Elayne Amorim

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