Guardo palavras como quem guarda pedras
preciosas.
Guardo versos sem poemas e frases sem
sentido.
Guardo visões antigas como quem guarda
memórias
O que aconteceu e o que não aconteceu estão
em meus pensamentos.
Talvez eu seja viajante do tempo; talvez eu seja
viajante de mundos.
Por apreciar também o silêncio
Guardo palavras que nunca foram ditas;
Palavras que (talvez) nunca serão ditas.
A natureza me ensina a silenciar diante da
grandeza das coisas
Diante de tamanha simplicidade das coisas...
Tempestades.
Céu azul.
Borboletas que transpassam por mim.
Cores e poeira e patas e sons e olhares.
Teria de viver um século apenas para
descrever tudo o que vi.
Receio um século ser muito pouco...
Então guardo as imagens como o poeta guarda
suas palavras.
Não guardo por egoísmo: mantenho-as na
segurança de sua preciosidade.
A poesia é solo sagrado e toda palavra revela
um sentimento
E coisas que (ainda) não compreendemos.
Como a natureza, a poesia flui selvagem pelos
poros
E simplesmente existe.
Rendam-se críticos! Abaixo as análises! Nada
de múltiplas escolhas!
A poesia é uma só desde os tempos antigos,
Como a feitiçaria, as mulheres e o prazer:
coisas proibidas.
Coisas incompreendidas.
Receio terem interpretado tudo errado.
A poesia não quer revelar nada, não pretende
nada,
Não possui preferências nem pudores.
A poesia é o que há de mais humano e mais
divino.
Guardada em grimórios, deveria ser declamada
sob o luar
Como numa prece, numa invocação.
A poesia não é racional. Ela nunca será
racional.
A poesia é sangue, é olhar, é pele,
É um gozo incontido no íntimo.
A poesia é a mulher que se tenta reprimir por
séculos.
Não é objeto, mas um grito de horror, um uivo
de prazer.
Não quero ensinar poesia, não existe “ensinar
poesia”
Quero despertar poesia, arrepiar a alma,
mexer na dor
Fazer ver o sentir, a sensação dos séculos
passados
E futuros que se resumem no agora, no
inevitável
E inescrupuloso agora – inesdobrável tempo de
todos os tempos.
por Elayne Amorim
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