Os
poemas.
Eles
já nascem prontos. São lapidados pelas vivências, emoções, pelos sentimentos
mais profundos e incompreensíveis à razão. O poema - como uma criação - não
pertence ao criador; não pertence a ninguém e a todos pertence ao mesmo tempo.
O
que é lido - que não é o poeta, nem a alma do poeta - o que é lido está
intrincado na humanidade.
O
livro é uma coisa física; um acesso às palavras e sentidos que acabam
permitindo acessarmos a nós mesmos. Por isso leitura é coisa perigosa.
Conhecer-se é também tanger a possibilidade de conhecer o outro. Ler é uma
maneira de acessar a dor alheia, aos sonhos alheios, aos risos e choros alheios
de que tanto nos esquivamos. É uma das coisas mais belas e difíceis que a
Literatura nos proporciona: colocar-se no lugar do outro e, então, provarmos um
pouco de nossa própria humanidade.
Não
é fácil reconhecer-se humano.
Sujeito
a todas as transformações humanas, a todas as imperfeições humanas, a todos os
tipos de sentimentos humanos.
Ser
humano também, talvez, seja essa possibilidade de – se quisermos – provar um
pouco da realidade do outro.
É
tão mais fácil ser mito, mártir, santo, líder, exemplo... perfeito. Porém
humano. Porque reconhecer-se humano é reconhecer-se simplesmente mais alguém
sujeito às coisas humanas e que não temos o direito de julgar ninguém. Que
preconceitos não têm lugar para este mundo humano. Nem intolerâncias.
É
por isso que ler é perigoso. Porque nos põe em contato com nós mesmos e com
nossa natureza em construção.
por Elayne Amorim
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