Não tenho filosofia. Eu tenho poesia

Viajantes do tempo




Eu amo cavalos.
Mas talvez haja aqueles que sejam como as almas viajantes do tempo, se é que essas existam mesmo, de vez em quando nos encontramos.
Eu amo algumas pessoas.
Mas talvez hajam aquelas guardadas no para sempre de minhas memórias; são os viajantes... Há vezes em que ficamos longo tempo juntos. Há vezes de minutos; de encontro, de despedidas, de esperas, de vivências.
Eu amo certos livros.
Mas ainda não tenho o favorito, aguardo-o chegar como um presente surpresa; talvez um clássico, um antigo ou que ainda será escrito.
Eu amo algumas datas.
Não é que seja a data em si, mas o que ela traz; o que ela faz despertar em mim, como os ciclos e as estações do ano, que trazem renovação.

Às vezes leio algumas frases e parecem ter escritas especialmente para mim. Quanta ousadia pensar algo tão absurdo, se em grande parte das vezes seus autores ou autoras já morreram há muito tempo ou simplesmente vivem tão distantes de mim...

Somos viajantes do tempo.
O que trago em mim é algo muito forte e muito antigo: estou exatamente quando deveria estar.
Às vezes tenho a sensação de inadaptação, de aprender lentamente o que as crianças parecem já nascer sabendo.
Quantas vezes tenho a sensação de rejeição: essa tenho que afrontar, como se me apegasse a velhos hábitos, a velhas ideias, a trastes que me atrasam.

Somos viajantes do tempo: o que temos?
Sinto-me como uma coisa a girar sempre dentro de todo esse universo que gira também sem parar e encontramos e reencontramos amigos, parceiros, companheiros, estranhos.
Estamos exatamente quando deveríamos estar.
O que este tempo tem para nós?

Prosseguir a viagem, olhar pela janela sem medo, trocar de cadeira de vez em quando, viajar em pé às vezes, deixar alguém se aproximar, reconhecer que alguém tinha de partir; apreciar; não permanecer na mesma estação tanto tempo, nem ter receio de descer na próxima cidade desconhecida.

Viagem sem regras que ruma, inevitavelmente, ao desconhecido.

Somos viajantes.
Com diário de bordo sempre incompleto. Ainda bem que inventaram as palavras, e os cadernos, e a informática, e a internet: tudo feito para me aproximar ainda mais de ti... estejas onde ou quando estiveres... viajamos juntos no paralelo desse misterioso trem chamado tempo.

por Elayne Amorim

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