Também
sou feita de esperas.
Não
costumo ter paciência, mas ela muito me é exigida.
Costumo
ter muita pressa, mas hoje a calmaria do mar de momentos já consegue me
tranquilizar.
Há
lugares que ainda quero visitar, bichos que quero conhecer de perto, plantas
que quero tocar, águas nas quais me banhar.
Tudo
que em pensamento visito ainda vou concretizar, esse é meu pedido.
Eu
não quero muita coisa não.
Luz
do sol, água de mar, galopes em maresia...
Eu
não preciso ir à Lua, rumar ao teu abraço é atingir a atmosfera fervente.
Escutar
uivos pela madrugada, a pele se arrepiar de passado.
Numa
canoa num rio serpente repleto de jacarés.
Ver
uma onça pintada fugindo pra longe.
Em
pé de fogueira escutar as histórias de lobisomens e uiaras e almas penadas que
ainda habitam na floresta.
Não
é que este não seja meu lugar: meu lugar é todo lugar onde habita vida. E espero
vê-la.
Onde
há calor e chuva e muitas águas, essa é minha riqueza.
Não
sentir o tempo passar, deixar que ele passe como passa para os passarinhos.
Já
esperei tanto o amor e hoje eu tenho tanto amor e nem sempre eu posso dar –
essa é a mais dolorosa espera.
Tenho
amores incontidos dentro do peito e eles explodem em formas de fonemas! Tento com
que façam calar os meus ódios mais profundos, meus ascos pela humanidade que é
a única condição de vida que não compreendo!
Com
todo o sentimento mais puro e incontido preencher os vazios, arrancar as mágoas
mais profundas, eu quero ser do amor como a liberdade é do cavalo, como o vento
é do pássaro, como a melodia é do instrumento.
Eu
espero compreender que não é necessário compreender.
Eu
espero o instante do perdão verdadeiro.
Eu
espero sem agir no momento em que não posso, em que não devo agir.
Eu
espero agir no momento em que a coragem me exigir.
Eu
espero a chegada e a partida de tudo o que é necessário para minha vida.
Porque
também sou feita de esperas.
Espero
a sinceridade das pessoas embora quase só encontre enquanto crianças sejam.
Espero
a poesia chegar... no remanso de um açude como na Concórdia.
Espero
a poesia chegar... como espero as lágrimas secarem até que se finde uma paixão.
Ah,
eu espero sim! Porque há momentos em que só resta esperar.
E
aí o tempo passou, a estação mudou, amores novos sempre vêm, rancores antigos
sempre se desfazem... Os sonhos reaparecem.
Não
é que eu espero meu futuro chegar, espero as sementes brotarem, porque a
natureza sempre nos ensina a lei da plantação, da espera, da brotação, do que
vingará, do que não; a natureza retribui ao que se faz e assim é a vida. A natureza
não conhece pressa nem demora: só o homem tem pressa e demora a compreender.
Então
sou feita de esperas naturais, porque não existe tempo certo, existe tempo de
colheitas.
Elayne Amorim
Foto: Açude da Concórdia - Valença - RJ
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