Quem disse
que os monstros não choram
Mentiu deliberadamente
Basta olhar
à volta
O que nos
torna monstros de nós mesmos
É o que nos
faz sair à caça de todos os dias
E basta, à
primeira ameaça, mostramos as garras
Construímos nossas
fortalezas
Somos grandes
fazedores de terríveis belezas
Tentamos esconder
a todo custo nossas fraquezas
Ainda somos
jovens sobre a Terra
Mas nossa
presença já mostra o quão suficiente somos em destruir!
Choramos nossas
perdas, nossas impensáveis causas!
Nós matamos
em nome de um Deus benevolente
Nós matamos
em nome da segurança da família
Nós matamos
em nome das novas conquistas
Nós matamos
cada vez que ignoramos!
Nós matamos
cada vez que não lutamos!
Nós matamos
cada vez nos calamos!
Haveria esperança
para nós?
Monstros em
busca de uma redenção
Monstros que
derramam lágrimas mas
Tantas falsas
vezes desejamos não ser
Os monstros
que pintamos, colorimos, inventamos
Haveria esperança
para nós?
Só porque
somos monstros que choramos
Haveria esperança
para nós?
Só porque
somos os últimos habitantes
De que temos
conhecimento?
E quem virá
depois de nós?
Se a ocasião
faz o ladrão
Para ser monstro
depende da situação
A monstruosidade
ainda varia
De acordo
com um ponto de vista
Nem os
vampiros, nem os lobisomens nos assustariam mais
Já cansados,
arrastamos nossos pés sobre o limbo da modernidade
Enojados,
acusamos outros mais
Enquanto que
nós... o que fazemos? O que somos?
Uma vez
expulsos do paraíso da inocência
Vislumbramos
algum amor torto e matamos muito
Matamos nossa
própria espécie
Matamos todas
as outras espécies
E por quê?
Responda-me
você
Porque já
não possuo argumento
Já são
milhares de anos!
É pelas
nossas causas que choramos
Tudo o que
provocamos
Desigualdade,
incompetência, catástrofes, fome, dominação, assassinatos, ignorância, egoísmo,
corrupção, ganância, poluição..........................
não! eu não
quero argumentação!
Tudo o que
há de bom consegue tapar todas as monstruosidades?
Estamos num
tempo em que não há escândalos
Tudo é
normal......................
Tudo é
normal......................
Tudo é
banal........................
Haveria esperança
para nós?
Só porque
somos monstros que choramos
Elayne Amorim
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