Não tenho filosofia. Eu tenho poesia

Até que se faça primavera em meu coração...

como traduzir sentimentos em flores?


A minha inspiração, de repente, retornou.
Acho que porque se aproxima a primavera.
Espetáculo de cores cintilantes muito em breve pelos jardins do hemisfério sul.

Depois da natureza quase morta, seca, podada a ferro e fogo, as plantas, mais uma vez, nos dão lições belas de vida: apesar de tudo, renascem, florescem.

Tento retirar dessa natureza forças para a minha alma florescer.
            De repente, sinto a inspiração retornar.
Sinto que meus galhos, dilacerados, querem brotar. Querem crescer. Querem ir mais alto, muito mais alto sem pensar em quedas futuras.
            Como a natureza, quero reviver.
As lágrimas já choveram demais em meu coração.
            Já é hora de ver-me florescer.
                        Eu mereço sorrir.


Se eu pudesse voltar no tempo eu não voltaria não. Não queria mudar nada.
Tudo o que sou hoje devo ao meu passado, às pessoas que nele existiram, aos acontecimentos que vivi.
Estou exatamente em quando deveria estar.
Já disse, a beleza existe também na dor.
Vou superá-la e, quando achar que tudo isso está acabado, verei, ficou no passado, só isso, e nada mais.
Meu cavalo selvagem interior continua a encarar-me: olhos negros, crinas longas como a noite, narinas arqueadas de tanto galopar pela prisão que sou.
Ele me desafia: “não me vencerá mais, não agora que as flores vão se abrir”.

A palavra “amor”, agora, é inadequada. Facilitei demais com ela, tarde demais:
xeque-mate!

Vendo daqui, só enxergo azul e seca. A chuva não vem, sinto medo ao pensar que ela, quando vier, pode vir impetuosa demais.
A natureza resiste. Vejo manchas negras sobre os pastos. Uma árvore que cresce a cada ano... solitária, a me observar lá de cima. Ela poderia ser o meu narrador onisciente: já me viu sorrir, já me viu chorar, já me abriguei à sua sombra uma poucas vezes, me vê escrever, me vê galopar, descansar, viver... Ela sabe tudo da minha vida. Acho até que ela sente minha alegria ou minha dor.
A árvore solitária é viva, imponente e resiste a vendavais e tempestades, resiste a esta seca incalculável que vivenciamos agora.
Ela já é minha amiga.
Linda, como uma noiva chorosa abandonada ao altar; linda, bloqueando a lua imensa e amarela por detrás dela. Linda, como só ela sabe ser.
Ela é como eu, está aflita. Sofre pela falta de chuva, mas tem esperança na primavera que chega. Eu? Tenho vergonha de ser menos corajosa que minha amiga árvore, mesmo assim, alimento esperanças; um dia de cada vez, até que a primavera rompa o doloroso inverno do meu coração.
Por Elayne Amorim,
à espera da primavera...

Um comentário:

Carlos Brunno S. Barbosa disse...

Que venha a primavera, poeta, e que os espinhos do inverno se transformem em flores feridas de imortal beleza!