Não tenho filosofia. Eu tenho poesia

Por onde ando...

Não que eu esteja perdida
Mas é que meus gostos são toscos
E meus caminhos não delineados
Às vezes prefiro dar voltas
A chegar ao destino mais rápido
Gosto de apreciar os caminhos longos

Gosto de tudo o que é infinito e complicado
Gosto da simplicidade e tocar a terra com as mãos
E com os pés
Minha poesia nasce da essência da alma
Ela não se prende a regras nem correções

E se me dizeres – acompanha-me –
Talvez eu vá contigo explorar o que há
Depois daquela esquina e inda não pude ver
Talvez eu vá
Mas simplesmente tenho rejeição a imperativos

Porque já descobri mesmo
Que só é bom o contrário das coisas
De que adiantaria provar apenas do doce
Se é no amargo que nossos sentidos aguçam
Estranho? Não, eu chamo de plenitude.

A poesia só é bela porque é arte
E arte, muitas vezes, é incompreendida
O que as provas fazem é testar a interpretação
O que as aulas fazem é tentar esmiuçar os textos
Mas a poesia – a essência – a poesia mesmo

É noite coberta de sangue, aquela noite
Que só nós poetas trazemos na alma inquieta
Somos rebeldes, loucos e chatos
E as pessoas riem pra nós como se fôssemos palhaços
Ah, tristeza da arte!

Por trás de todas aquelas pinturas – os palhaços –
Muitas vezes trazem um semblante de cansaços
E os risos em lágrimas têm-se transformados
Na madrugada fria, bem depois
De toda a plateia ter ido embora.

Do que eu gosto talvez não te agrade
Mas nem por isso deves negar tua amizade
Os poetas são inofensivos com sua fúria verbal
Não é minha intenção machucar-te
A minha intenção contigo é outra

Já disse, gosto de sentir os contrários
O que me oferecem neste mundo é muito pouco
Eu quero mesmo é tocar o brilho, não apenas as estrelas
Visitar os abismos e ter em meus olhos
Reveladas escuridões, aquelas que nos despertam

Ah, não sou mulher de seda e açúcar
Às vezes acho que nem sou mulher, nem humana
Um contrário de gente que sabe falar
Eu vejo coisas que ninguém vê, ouço olhares
E degusto sorrisos, redemoinho realidades

Talvez tenha tido um anjo torto também em minha vida
Talvez o Criador quisesse se divertir um pouco
A matéria que me compõe é volátil, intensa e voraz
Não consigo aceitar tudo, não consigo calar se a vontade é gritar
Eu resido nos opostos das coisas, queres me ver? Passa lá...
por Elayne Amorim

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