Não tenho filosofia. Eu tenho poesia

Enquanto eu dentro do carro viajava e olhava a estrada...

Imagens que vejo e da forma que vejo me impressionam. Cenas das mais comuns e de tanto serem comuns talvez as pessoas deixem de ver. Mas eu vejo. Eu vejo e as imagens se tornam palavras e aí escrevo. São tantas misérias misturadas que fica difícil separá-las ou descrevê-las. E eu apenas vejo. Mas, eu ainda vejo.


Eram cavalos
Maltratados amarrados muito magros
Na beira da estrada de asfalto
Por entre cavalos
Entremeados os lixos se espalhavam
As manchinhas das sacolas brancas
Entre os cavalos esfomeados
E cães que passavam mais ao longe
Numa perspectiva de quadro
Talvez, expressionista, que me impressionava
Eles eram cavalos
Mas entre eles o lixo espalhado
E os cachorros
E entre todos naquele quadro
Eram pessoas
Homens, mulheres e crianças
Procurei culpados pela fome dos cavalos
Procurei, mas todos faziam parte daquele quadro
Esfomeados cavalos lixos espalhados cães
Casas muitas casas entre pessoas
Casas em tijolos pelados misturados
Um quadro cortado por um córrego em completo negrume
De água densa com manchas brancas
A água dos cavalos
A água das casas das pessoas
E aquele quadro
Por um mísero asfalto separado
Cavalos magros lixos sacolas cães tijolos pessoas córrego
Todos misturados mergulhados na mesma miséria
Ficou difícil saber os culpados por aquele quadro
Na Cidade Maravilhosa
No país que vai sediar a Copa.

Fui embora, mas o quadro permaneceu intacto em meus pensamentos.
por Elayne Amorim

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