Não tenho filosofia. Eu tenho poesia

minha vida numa estação de trem



minha vida é feita de esperas demoradas, o mundo é lento demais para minha urgência de viver, não faço besteiras – nem tantas assim – mas já me sinto me enlouquecer...

minha vida é feita de galopes e paradas, às vezes dá vontade de me deixar ser levada pelo vento como as folhas das árvores e desaparecer porque minha impetuosidade me maltrata – mas já me sinto enlouquecer...

minha vida é feita de procuras e coisas que gostaria de entender, às vezes me sinto só ou só mais uma entre os bilhões, há momentos em que me sinto única e há aqueles em que pareço perdida numa estação de trem, bagagem que alguém ignorou – mas já me sinto me enlouquecer...

minha vida é feita de fé e desespero, porque alguém me escreveu assim, estou disposta a ver no que vai dar, não quero mais me acovardar em meus confortos, deixar a vida passar naquele trem, eu vou continuar, vou confrontar minhas procuras – sim, já me sinto enlouquecer...

minha vida é feita de vidas, pelas veias o sangue se inflama: esperas, galopes, procuras, desespero e fé, aquela mesma fé que aquele homem me entregou naquela esquina, aquela mesma fé que me conduz a sonhos vislumbrados em forma de palavras, em forma de inexatidão, como se tudo fosse realmente possível, como se meu destino não estivesse nas mãos de alguém, como se nada estivesse já escrito, a mesma fé que move montanhas, a do tamanho de um grão que faz milagres – sim, eu já enlouqueci pra sanidade do mundo...
(Elayne Amorim)

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