Acho que demorei a me manifestar,
tendo em vista os últimos acontecimentos... Como se não bastassem tantas
contrariedades que temos tido na educação nestes últimos longos meses, agora, a
nova ameaça é a retirada de nossos triênios que – diga-se de passagem – é parte
importantíssima que integra nossos salários.
Talvez mais motivada por um texto de
um amigo professor que li hoje... Ora, meu amigo, o sangramento de que falaste também
jorra pelas minhas tímidas palavras e
muito mais pelo meu silêncio ante ao desânimo, ante a inércia da nossa classe.
Sim,
também sinto vergonha, pois tantos passam pelas nossas mãos, pelos nossos
ensinamentos, e que cidadãos temos formados? Se nem mesmo nós – classe letrada,
pensante e formadora exercemos nossa cidadania? Podes ter certeza de que junto
ao teu sangue o meu também se mistura. Estamos em um sistema de manda-obedece e
aqueles que questionam são vistos como “os errados”; Somos rotulados de
insatisfeitos, grevistas, anarquistas... Assistimos à queda dos nossos
direitos, do nosso valor profissional como se – de fato – nada pudesse ser
feito, como se não tivéssemos força como classe, pois se adota um pensamento individualista.
Bem, mesmo em face de um prejuízo coletivo
não vejo ainda grande reação por parte dos profissionais. O que terá calado a
nossa voz? Promessa que não são cumpridas? Bonificações que quase estão se
tornando lendas urbanas?
Vejo colegas indignados, chateados,
desmotivados face a tudo isso... Porém, inertes. Não, e fácil ir à luta, sair
da acomodação, alias, é muito estressante, é muito difícil; Porém, isso não pode
ser empecilho para nada ser feito. Ah, meu amigo, como me entristece olhar para
esse quadro e, por vezes mi sentir inerte também. Com tudo, não da para ficar
calado, não da para assistir a tudo isso passivamente... Ordens burocráticas, estatísticas
que têm de ser alcançadas mesmo que à custa da não-aprendizagem do aluno,
colegas sendo prejudicados, salas superlotadas, redução no numero de aulas de
varias disciplinas, carência de professor; cobranças em cima de cobranças que
nós sabemos muito bem nada ter a ver com “o aluno” e sim com “números.
Pergunto-me onde estamos nós como
classe de profissionais? Exercer a cidadania é cumprir deveres e buscar
direitos. Sei que a maioria dos professores cumpre o seu papel muito bem, mesmo
diante de sistemas precários e desmotivadores... Por que não buscamos nossos
direitos? Nosso valor?
Meu amigo, obrigada por ter me
acordado hoje, num dia em que estava sentindo o desanimo pesar em minha alma. Eu,
como pessoa – e não como mero numero – não poderia me calar. Eu, como
profissional que (ainda) amar o que faz, não poderia me calar. Eu, como amante da
poesia e insana poetisa, não poderia me calar.
Poderá eu acordar todas as vozes
para que gritassem bem alto contra as injustiças e aos mandos e desmandos de um
governo que não prioriza a educação, de fato.
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
Será
que – individualmente sabemos de nossa responsabilidade para com aquilo que
escolhemos como profissão para nossa vida?
Por Elayne Amorin
Um comentário:
A sua fala esta perfeita ! Parabéns pela sua postagem , tomara que de mtos frutos ! Um grande abraco e após essa leitura ainda vejo uma luizinha no fim do túnel.
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