Não poderia deixar de escrever. Ainda mais eu. Ainda mais quando. Ainda mais por quê. O texto não ficou bom, é claro, são quase duas da manhã depois de um dia de cansaço, porém, a poesia existe nos fatos, nas razões. Quando nasce uma flor no asfalto, é preciso parar para olhá-la, bem de bem perto, ver se não é miragem. É tempo de mudança: que não percamos esse trem.
Poxa, acho muito bom os movimentos –
eles retiram o povo da inércia, inércia não é característica humana. Temos pernas,
temos mãos, temos voz.
Não tenho assistido a telejornais nem
ouvido muito a rádio nos últimos dias, apenas lido e, o pouco do que soube, já
me deixara feliz, porque faz aquela esperança enlameada no fundo do poço esverdear-se
e posso ver que ainda há pessoas não cegas, não surdas, não mudas. Ainda há
tempo. Ainda é tempo.
Eu tenho muitas razões para protestar:
o dinheiro do meu trabalho indo para o bolso dos que nem votei; meu trabalho
sendo desvalorizado a cada dia: neste país, quem trabalha ganha quase nada e é
submetido a avaliações, quem não trabalha que é o esperto, porque ganha e ganha
muito sem fazer nada; passagens caras, sim, dependo delas. Ah, se fossem apenas
os centavos... Os centavos que se transformam em milhares e os milhares em
milhões... Acho que essas e outras razões não são apenas minhas... Neste país,
os valores estão sendo todos subvertidos, as qualidades passam a defeitos e os
defeitos, admiráveis. É o que vejo. É o que vemos. É o que vivenciamos. A moral
e a ética, o que são mesmo? Não, não falo de moralismo bobo ou barato, falo de
moralizar as instituições políticas, de haver ética quando o assunto é
sério e não terminar em pizza e, ainda por cima, o povo achar graça da própria
desgraça.
A corrupção e a roubalheira estão
descaradas e ainda aplaudimos! Com o nome de democracia, muitos sistemas
autoritários e ditatoriais vão se infiltrando, pouco a pouco, em nosso meio, e
nem mesmo a opinião é ouvida ou tolerada pelas pessoas. É pecado pensar diferente,
questionar, ser crítico.
Espero que tudo isso possa ocasionar
em nós a mudança de mentalidade; despertar o espírito crítico próprio do
ser humano; que possamos enxergar diante do brilho falso de que tudo anda bem.
Qualquer obra, qualquer sistema,
qualquer coisa que se faça e envolva
dinheiro público (dinheiro do povo, portanto, nosso) há superfaturamento, há
desperdício, há bolsos de inimigos que se enchem e se enchem e se enchem enquanto
nós pagamos caro o preço de nosso descaso, de nossa ignorância política, de
nosso conforto em “nada me estressa”. Estressa, estressa sim ver tanta coisa
errada e, nem mesmo, poder falar. O que é? Ditadura? Estressa, sim, ver tanta
bandalheira enquanto a honestidade é jogada ao ralo. Qual é? Que país é esse, repetia Renato na
canção e repetem as pessoas tímidas em falar e se manifestar. Esse é o país que
nós construímos. É mais fácil fechar os olhos, é mais confortável montar em meu
cavalo e esquecer que esse mundo existe. É bem mais fácil não fazer nada. Não opinar,
não olhar, não avaliar, não parar para pensar, não deixar de ter medo.
A maior violência está implícita, no
dia a dia, subvertendo tudo aquilo que era pra ser o “certo”, desvalorizando o
seu trabalho, retirando-lhe a “cidadania” enganosamente com palavras bonitinhas
e piadinhas.
Certamente que baderneiros são
totalmente dispensáveis, mas, sinceramente, como aguentamos tanto? E por tanto
tempo?
Ah, estou farta! Farta! Farta de
impunidade, de estupidez, de cegueira, de ignorância. Farta de ser mais uma
analfabeta política, como se a minha ignorância não afetasse em nada, como se a
sua ignorância não me afetasse.
Sim, é hora de aproveitarmos o momento
não para fechar ainda mais os olhos, mas para abri-los. Enxergar, olhar cada
detalhe, escutar, dialogar, botar em dia aquele patriotismo fácil quando usamos
uma camisa de pano verde-amarela em dia de jogo. Sim, reparar. A revolução,
primeiro, começa dentro das pessoas. Desorganizadas, unidas por um mesmo ideal,
porque a realidade muda, ela tem que mudar, ela está absurda.
Que esse espírito seja fruto de
corações realmente revoltados, com causas muito justas e sinceras e óbvias. E viva
a revolução – a revolução que acontece no sentimento das pessoas, no cerne de uma
sociedade tão violada em seus direitos e que ela – a sociedade, esteja
acordando. De verdade.
por Elayne Amorim
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