Permito-me todos os
dias a sonhar alguma coisa impossível. Depois desse exercício fácil, abro a
janela e me pasmo com o dia mais uma vez. Meus olhos, quando adormecidos, veem
todos os dias iguais. O céu vazio de abstrações: apenas céu amplo. Quando acordo
de verdade sinto a dor de existir: uma dor inexplicável que não chega doer como
as outras. Meu coração bate muito forte quando penso que meu limite é uma
infinidade magnífica de uma energia inexplicável. Há relances de momentos em que
pareço compreender tudo, então me deixo sentir, só existe compreensão verdadeira
naquilo que é sentido, onde as palavras se encontram em tal estado de poesia
que já se transformaram em êxtase. Essa poesia (quase) inalcançável habita. Há quase
todo momento sou atropelada por um tropel desordenado de pensamentos. Apaixono-me,
sempre. Atropelada por tudo o que passou-passa por mim, voo. Voo nas cadências
desordenadas onde a distância não faz diferença, onde todas as frases feitas já
foram destruídas, onde a filosofia passou a plano de ideias, simplesmente. Eu voo
tão alto que o sofrimento da espera chega a me fazer sorrir. Chego a quase
tocar o céu da tua pele imaterial, chego a quase não ter mais a forma humana
vulnerável de conceitos, chego a atravessar metade de mim a outra dimensão
ainda não descoberta – e é ali, ali, quando meus dedos esticados chegam a
sentir o hálito dos tempos impenetráveis que eu compreendo o que não dá para
compreender... a poesia em estado de poesia, as palavras em estado de poesia,
todos os sentimentos em estado de poesia. Aí eu sei o que é real. Acordo do meu
voo para mais um dia comum. Eu não me encaixo, mas sigo em frente, na esperança
de não me encaixar mesmo. Na esperança de mais voos incontidos a outros voos.
por Elayne Amorim
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