Prestar atenção nos detalhes? Ouvir? Dizer repetidas vezes, até que se faça luz na escuridão da alma dolorida. Olhar um pouco mais de perto, até fechar os olhos para sentir. Ser mais ou menos racional, não importa; o importante é viver.
Quando olho
para a natureza, me dá vontade de viver.
Quando passa
o vento de leve tal vozes de anjos soprando sobre as folhas
Me dá
vontade de viver.
O pelo dos
animais brilhando ao sol vermelho
O verde do
outono seco
O som das
cores
Dão-me
vontade de viver.
Ontem escutei
uma frase que me causou grande espanto.
Será que
os bons estão desistindo de viver?
Ou é só um
prenúncio?
Mas quando
olho para esta tarde linda, o presente é perfeito.
Cada detalhe,
cada som, cada movimento: a física e a poesia trabalhando juntas.
Os pássaros
gralhando nas copas das árvores balançando ao vento
enquanto o
sol vermelho mergulha ao v dos morros, últimos raios alaranjados invadindo a
porta da minha sala, indo tocar de leve as asas da fada abraçada a seu
unicórnio.
Como o sol
veio a descobrir esta fresta?
Como eu vim a descobrir este detalhe só agora depois de tantos anos?
Quando tudo
parece perdido:
Quando as
frases mudam o sentido:
Quando as
pessoas parecem desistindo:
Só queria
dizer-te que (talvez) seja o caminho escolhido;
O mundo
sempre foi um lugar perigoso
Como também
sempre houve prenúncios
Que só os
olhos perspicazes conseguem ver.
A primeira
loucura sempre vem com algum desespero
Depois não
há como voltar – e só resta a beleza que poucos conseguem ver.
Dirão louca,
ingênua ou depravada
Dirão tantas
coisas
Mas!
Não te
abismes naquilo que te leva à dor
Procura na
escuridão de tua alma a fresta
Por onde
passa o raio de luz do prenúncio
Enxerga
- um
quadro, uma gota de chuva, uma parede com rachadura, uma nota de música, um
livro bobo de dois reais, a frase do maluco beleza deitado na calçada da
esquina –
prenúncios.
Prenúncios
de vida.
Prenúncios
de que os bons não estão desistindo.
Prenúncios
de que a vida quer viver, a vida sempre quer viver.
Prenúncios
de que, mais do que nunca, precisamos viver.
A beleza –
assim como a poesia – estão em tudo.
Não te
abismes.
Eu me
abismo todos os dias – hoje mesmo me abismei com as vozes do vento...
Não te
abismes – a não ser com a beleza ou a poesia.
Lembras que
tudo passa?
Lembras,
que trocadilho mais bobo, que as coisas ruins passam, e as boas também, e as
ruins...?
Então sorri.
Já passaram. Estão a passar.
Só o que
fica são a beleza dos momentos e a poesia.
A bondade
e a maldade são muito passíveis de discussão.
A beleza
(dos momentos) e a poesia, não.
As vozes
dos anjos cantando através do vento ainda não me saíram da cabeça...
por Elayne Amorim
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