Sinto-me apaixonada. E sentir-se apaixonado é uma das melhores sensações
que existem porque é tenso, intenso e louco. Minha solidão que amo
amplifica a saudade de ontem – ontem terminado há poucas horas – e mesmo
assim aperta de vontade. O meu corpo já reclama aquele carinho, já
sente a ausência do calor causando arrepio e as horas, embora
aceleradas, retardam o momento do reencontro. Assim a vontade se expande
e em nada me concentro, pois em tudo o que olho há silêncio. A paixão
ocupa minhas veias e às vezes ferve. O mundo lá fora anda tão chato.
Tenho vontade de prendê-lo comigo, apertá-lo dentro de mim e fugirmos
sem proposta ou promessa: seguirmos o caminho. Estar com ele é também
estar comigo; não nos privamos de nós mesmo estando juntos e posso
confiar o direito de guardar meus próprios segredos e ele os dele. Nós
somos humanos, mas temos essa coisa de sermos transcendentais. Nós somos
matéria e poesia. Não nos pertencemos porque somos livres e temos
certeza da insegurança: não saber do depois é uma forma de saber que não
temos controle. A paixão é a melhor parte de tudo. Olhar com paixão,
tocar com paixão; ser olhada com paixão, ser tocada com paixão. A
incivilidade desse sentimento me encanta. Ele me desespera, me recobra,
mas também me exaspera as forças. Solavancos.
Elayne Amorim
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