Brigar com o tempo é perda de tempo. Vivo
numa fase (comprida) em que brigo com o tempo (mesmo sabendo eu ser perda de
tempo). Ora, brigo contra meu sono, que não se repõe nas suas oito horas
exigentes, que não me tem permitido escrever às noites de lua cheia. Brigo contra
as horas que perco esperando ônibus (indo para o trabalho, voltando do
trabalho). Brigo com as horas que passam tão rápidas em feriados e finais de
semana, em que planejo mil coisas e não consigo realizar metade. Brigo com as
horas que (considero) perdidas: reuniões que não resolvem nada, momentos que
não me acrescentam em nada, ofícios e mais ofícios que levam horas e não levam
a nada. O trabalho, feito para dignificar a pessoa humana e levá-la a realizar
algo (além de ser necessário para sobreviver neste mundo) às vezes é totalmente
sem sentido e faz perder tempo. Estou numa guerra contra o tempo e preciso sair
dela. Batalhas e batalhas que serão perdidas e serei massacrada. O meu tempo
não anda condizendo com o Tempo. Ele já é quase uma personificação alheia a
minha vontade, me aterroriza dia e noite e praticamente posso enxergar seus
tentáculos de horas, minutos e segundos a brincarem comigo, me jogando pra cá e
pra lá, a fazer o que bem entende de mim. O que aprecio o tempo tenta roubar de
mim. O que quero o tempo tenta atrasar de mim. O que mais desejo o tempo deixa
suspenso numa área atemporal e eu persigo, persigo, persigo, mas a coisa
continua suspensa, lá no alto, e eu nunca sei se estou perto ou longe. Persigo.
Perseguirei. Ah... mas esse malabarista não perde por esperar! Sei de coisas
atemporais também que me darão jeito de driblá-lo. Ah, tempo, teu problema é
que não cabes dentro de mim. Se contigo não posso, me entregarei a ti e
deixarei que tuas correntezas malévolas me levem para o destino dos meus
sonhos. Ah, tempo, tempo, tempo, tempo... vou mergulhar em ti, tua imensidão
vai me inundar. Não vou mais brigar. Vou deixar passar o que tem que passar. Vou
deixar ficar o que precisarei levar. Vou continuar a perseguir o que no alto
está. Minha vida é movimento: se paro, só tormento. Tempo, tempo, tempo,
tempo... ensina-me a nunca parar, pendurada em teus ponteiros, vou deixar a
vida girar, e com ela girar e girar e girar...
Elayne Amorim
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