Não tenho filosofia. Eu tenho poesia

Queria dizer que te amo.



Queria dizer que te amo.
No momento em que digo “te amo”
Estou de fato a amar-te.
No momento em que sinto te amar
Realmente te amo.
Mas ao dizer “te amo” não estarei a te enganar,
Porque há momentos em que não te amo.
O amor, talvez, seja sentimento contínuo
Mas ao dizer “te amo” não me tomarias pra ti
Como se te apossasses dono de meu sentimento?

Queria muito te dizer que te amo.
Mas tal frase consagrada banalizada
Iria escancarar portas para tamanhas considerações
E não entenderias (acaso entenderias?)
Não entenderias se te dissesse que coleciono amores.
Que ainda possuo paixões que se tornaram fugazes
E que ainda tenho o mesmo coração capaz
De se apaixonar tantas e tantas vezes inexplicáveis.

Mas quando te digo “eu te amo”
É como se me tornasse tua propriedade.
E, não, eu não mentiria: guardo amores.
Possuo lembranças, vivencio sentimentos.
Mas tu és meu presente.
Embora sejas meu presente momento.

O que poderia eu dizer do futuro?
Acredito nas relações longas
Mas não desconheço a efemeridade.
Talvez eu te amarei para sempre neste
Nosso tempo passageiro.
Talvez eu te ame até amanhã.
Não me importo com o talvez.
Mas é que as palavras formam
E destroem mundos num piscar de olhos.

Tenho medo de ao dizer “eu te amo”
Possas construir um mundo falso pra ti
Porque eu te amo tanto e com tanta intensidade
Agora
Que nada poderia prometer, nem planejar.

Por que dizer eu te amo é tão perigoso assim?
Se o bem maior que temos é o amor?
Ele atravessa os tempos, muda as sensações,
Nos enche de incertezas e controvérsias,
Nos desafia e faz brotar as horas mais insanas de poesia;
Se, mesmo definido, é totalmente indefinível?

Eu te amo tanto e, no entanto, tudo que posso oferecer
É a incerteza.
São as falácias que cabem bem às palavras.
Eu te amo e estou te amando no momento em que digo
No momento em que de verdade estou contigo
Mas, em outros instantes, como sabê-lo?
Eis a liberdade das almas, que jamais deveriam se prender,
Apenas se amar.

Elayne Amorim

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