Não tenho filosofia. Eu tenho poesia

Lágrimas de sangue


O eu lírico. Conceito utilizado em Literatura para designar a voz que fala no poema, ou seja, descontextualizar o autor da obra. Interessante, porque isso mostra o quanto a arte é infindável, plena. Ali, na sua expressão maior de si mesmo você pode ser o que quiser, não é você e ao mesmo tempo é. Só a arte possibilita isso ao homem, infinidade e eternidade. De repente, e já não sabemos se as dores são reais, inventadas, se são as dores de outra pessoa... De repente, elas aparecem sublimadas a um nível que nossa consciência racional já não tem alcance e, ao ler um poema, parece que estamos sendo lidos por dentro. Já falava disso Fernando Pessoa em seu poema "Autopsicografia", qualquer dia desses compartilho com vocês...
Eu sou o meu eu lírico.



Estou derramada sobre este papel que lês.
Palavras reais em papel irreal
Não podes me tocar, nem mesmo em minhas palavras
Não podes me sentir, mas estou aqui
Em tuas mãos, leitor
E tens todas as minhas dores
Sob a luz de teus olhos
Que esperavam um poema bonito
Estou derramada sobre estas palavras
Sou cada letra desta, escrita a fogo e latência
Sou tormenta, deselegante lamento
Meu por que será teu por que também
Não sairei de tuas vistas, nem de teus pensamentos
Porque me tens em tuas mãos
Eu lírico irreal numa página virtual
Ser humano real por trás da tela fria
Que sofre e minha dor é também a tua dor
Se carrego o fardo da poesia, tua carregas fardos,
Leitor, porque omisso à minha dor
À tua própria dor
Ignoras teus sonhos, quem eras
O que te tornastes, olha pra ti
Encara-te ao espelho e verás as marcas do tempo
Que também te derrotou e continuas a te derrotar
 
Palavras irreais em páginas reais
Virtualidades são teus sonhos loucos
Abandonaste aquela criança que apontava estrelas com os dedos
E lhes dava nomes
Abandonaste teus ideais por tão pouco conforto de existir
Não vives mais!
Ah, leitor, implacável mais é a minha dor
Que se tu soubesses, chorarias ainda mais
Lágrimas de sangue
E mancharias tua roupa limpa de adulto correto
Inundarias o teclado, mesa e papéis
E o sangue de teus olhos não pararia de brotar
Pois sabes que não vale a pena
A vida que deixa de ser vivida
Os sonhos que se deixam perdidos pelo caminho
Por medo ou hipocrisia

Palavras reais em páginas virtuais
Chora! Chora! Chora agora
Que inda dá tempo
De livrar-te, de libertares tua alma...
Ainda dá tempo...
Agora dá tempo...
por Elayne Amorim

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