Não tenho filosofia. Eu tenho poesia

Traduções de pedaços e eus...


Se eu não fosse todos os que me são
Eu não seria eu.
Mas se todos – esses seres – me são
Onde estou?
Partir significa dividir
Mas pode ser multiplicar
-se
Mais pedaços,
E, como tudo que se parte,
Aumenta, diminui...

Fui partida...
Pedaços de mim se espalharam pela casa
Alguns deles preciso para sobreviver
Alguns deles serão necessário morrer.

Eu sou tudo isto aí que vês: sorriso, lágrima, sangue e aconchego. Mulher, amante, amiga e abraço. Inocente, pecadora, humana e calor. Prosa, poesia, silêncio e envolvimento. Fogo, chama, labareda e proteção. Carne, pele, arrepio e afeto. Alma, emoção, sentimento e aperto.
Eu sou tudo isto aí que vês: um abraço imenso, seja em qual estado de espírito esteja, seja o que for, como for, e quando. Se estás entre meus braços posso adotar-te, posso amar-te, posso te aquecer, te fazer esquecer, dar-te o maior prazer.
Eu sou tudo isso aí que vistes e se achares tudo demais, posso ser apenas eu. E meus braços.
Não acredito (mais) em almas gêmeas.
Os eus que solto por aí são todos meus.
Porém, é estranho, ao ouvir a ti
Pareço estar ouvindo a mim.
Eu me encontro todos os dias comigo.
Por vezes ouço música, por vezes
Escrevo um poema.
Gosto de me ver sorrindo, porém
Às vezes,
Vejo-me encolhida sobre o sofá
Enquanto as lágrimas escorrem.
Vejo-me dentro do olhar, vejo-me nas asas
De uma borboleta.
Por vezes a correr floresta adentro
E a me abraçar quando a brisa bate em meu rosto.
 
E assim...
Vidas
Em mim...
Sussurrando sopros sinais sentidos
Vidas
Cantando dentro de mim, orgias vitais
Pulsando na cadência
Batendo em ondas
Vermelhas
Correndo pelas veias
Vidas
Gotas orvalho saliência de lágrima
Passando por mim torrentes e sons
Uivos de lamento, cantos sem fim
Vidas
Como se de repente eu me descobrisse
Em cada criatura viva, eu nelas, elas em mim
Sou um mundo inexplorado
Eu
Ego extenso demais para definir assim...
Eu
Busco-me
Em ti
Não por ser
A mim
Não por ser
O que
Falta-me
Eu
Busco-me
Em ti
Por seres
O que há
Em mim
Devagar vou juntando meus pedaços, vendo o que combina, o que não combina. Não se trata de passar cola nem botar remendos em coisa velha. As pessoas às vezes se esmigalham, parecem-lhes fenecer até os ossos. Não foi pra tanto (talvez), mas foi bastante, e esmigalhei-me por dias. Por semanas. Por meses. Custei a me ouvir.
Agora que me ouço tagarela em meus ouvidos, vou catando os pedaços que deixei cair. Preciso ter paciência comigo porque ainda acho as coisas complicadas demais, a vida complicada demais, as pessoas complicadas demais. Eu sei que não são tanto assim, mas ainda acho. E quando tento fazer algo descomplicado ou para descomplicar, vejo-me numa situação extrema.
Acho que gosto dos contrários.
por Elayne Amorim

Um comentário:

Steeve Cavalheiro disse...

Muito linda esta poesia Elayne!
Tenho acompanhado seu trabalho com muita satisfação.
Felicidades!