Não tenho filosofia. Eu tenho poesia

Poetas


Hoje, apesar de muito, muito cansada do trabalho, não poderia deixar de postar algo que falasse do poeta. Hoje é dia do poeta. É meu dia também. Animei-me a publicar algo, um poema improvisado, saído do agora, saído do cansaço, saído dos últimos acontecimentos, saído da inspiração crua e simples do instante em que estou diante do computador. Para aqueles que podem ver além, resta-lhes a missão de serem luz para aqueles que mergulharam na sua própria escuridão...

Basta
         apenas
                     um
                         to
                            que...

Com a ponta de teus dedos no vocabulário estático
E reúne as palavras como um rebanho a seguir-te
Guardador de rebanhos...

Como em uma pauta o músico compõe as notas
Tu ditas
Cada tom
E permites que cada uma siga seu rumo
E de tuas entranhas, nasce
O poema
Criatura gerada de teu desejo ardente

Tu és o ourives moderno de Bilac
Por entre carros, lama e fumaça
Tu caminhas pelas almas humanas
Extraindo delas a beleza que nem elas mesmas veem
E vês da humanidade a desgraça
E vês de cada ser cor e graça

Tu cativas com sensibilidade agressiva
Tu espancas com versos a consciência alheia
Tentam te reprimitir, mas já perceberam
Não se pode calar a voz de um poeta
Não se pode impedi-lo ver, de sentir, de falar
Gastas horas pensando não um, mas mil versos

Hoje não é teu dia, mas todos os dias
Recolhes a lágrima e a transforma em poesia
Molda-a com sílabas, misturas a emoção do outro
Tua própria dor fingida, tua própria dor
E, como um maestro insano, reges as alegorias
Num coro de demônios e anjos

És a luz dos seres humanos inertes, cegos, surdos, omissos
Tu incomodas, e por isso te perseguem
Tu chamas, muitos te viram as costas
Tu és difícil de ler, alma alucinática
Tu encantas – e nem sabes – muitas almas renegadas
Como a minha, sedenta e apressada

Porém, tu não tens pressa...
Eu tenho
E é nisso que se difere a nossa poesia

Gosto de chamar-te encantador de palavras
Pois em tuas mãos elas se tornam ferinas e afinadas
Tornam-se lirismos de um velho adulto adolescente infantil

Enquanto que as minhas são desencantadas
Transformam-se em labaredas altas vermelho-sangue
O sangue que corre em minhas veias: já nasci poesia

Guardador de rebanhos, ourives, encantador...
Nunca irão calar tua voz enquanto houver um traço de injustiça
Enquanto houver um ser humano sofrendo por amor
Enquanto houver palavras a serem ditas
A perguntas nunca respondidas!
por Elayne Amorim

Um comentário:

Carlos Brunno S. Barbosa disse...

Uau! Se teus poemas saem sempre assim belíssimos quando estás cansada, desejo que o cansaço beije sempre a fronte de tua inspiração, poeta das "labaredas altas vermelho-sangue"!