Não tenho filosofia. Eu tenho poesia

Pavor de poeta

Caros leitores, a correria do dia a dia talvez me faça atrasar as postagens, mas é só, a poesia permanece viva e dinâmica.......

O blog é algo vivo, fico meio apavorada se interrompo seu ciclo natural de vida. Isso porque o blog - este blog maluco que criei - é, antes de mais nada, poesia. Sim, ele não é um diário, não é pra divulgar informações friamente, não é pra... muitas coisas. Ele é pra poesia. Cada item, cada texto, cada imagem está carregada de lirismo pra mim. São os meus eus líricos que se esparramam sob várias formas - como um pode tantos! - e, já que se esparramam, espalham também a poesia que cada um traz consigo.

Infelizmente, a correria nossa de cada dia nos impede, às vezes, de deixamos a poesia seguir seu ritmo, acontecimentos, trabalho, preocupações, racionalizações necessárias... nos bloqueiam. De repente, hoje, eu olhei pra realidade e senti que apenas olhava pra realidade, mais nada. Vi meus versos apagados, meus sentimentos confusos se tornaram angustiados e nulos, sem esperança. Aí, meio que me apavorei por dentro.

Quando olho pra realidade - e pra tudo o que nela há, vivo ou não vivo - gosto de ver sua alma, aquilo que está por detrás dela e ninguém mais vê; gosto de ver coisas que, emboram me inquietam, fazem-me sentir, fazem-me pulsar, fazem-me perceber que há vida - e vidas - em mim, e nelas.

Não dá pra olhar pra realidade e não ver. Não dá pra ser cego, não dá pra ser surdo, não dá pra ser mudo. Eu e mais uma meia dúzia de loucos extraímos sentimentos de pedras, nulidades de vidas, belezas de dores, esperanças de nuvens cinza. Simplesmente não dá pra ser o contrário. Quando olhei e não vi nada... uma dor estranha apertou meu peito. Respirei fundo e senti meu coração pulsar, desacelerei e o tempo também desacelerou junto comigo. Fechei os olhos por instantes e, quando os abri de novo, eu percebi que tinha voltado a enxergar. Fora só um susto. Nada mais.


Tiraram-me a poesia hoje.
Estou num daqueles dias em que a enxurrada de pensamentos
É tão grande
Que me sinto mergulhada num grande lago branco:
Estático, sem temperatura, completamente imerso
Na não poesia.

Não é meu ambiente, mas,
Até mesmo os poetas têm dias assim.
Dá medo.

Olho a parede branca e vejo só uma parede branca.
Olho os morros verdes e molhados e não vejo galopes.
Olho a tela do computador e vejo apenas uma tela de computador, fria.

Dá medo.

É como se me cegassem,
Como se afogassem minha alma naquele lago. Branco.
Não chove nem amanhece em mim, nem nada.
Eu sinto ausências e presenças se cruzando
E o tédio. Mas é um tédio que não revela nada.

As pedras, as flores, o azul do céu, as palavras...
De repente estão calados, não querem me revelar seus segredos.
As pessoas de repente se calam
E nem mesmo seus silêncios me falam.
Ouço a TV na sala e ela me apavora,
Ela fala fala fala e não me diz nada:
Sua realidade é uma realidade que nada me revela de novo.
As músicas aparecem sem melodia
E os advérbios enaltecem a brancura do tempo
Que passa
E não me diz nada.

Não gosto de ver as coisas caladas
Os seres calados, a vida calada
Alienada na falsa e intrincada sensação de bem-estar ignoto.

A vida sem poesia é não vida
A vida sem poesia é vazia
A vida sem poesia é fria

Dá medo.

É como se meus ouvidos fossem tapados
E meus olhos vendados e minha voz arrancada
E minhas sensações estagnadas
Eu não sinto o gosto das palavras
Eu não sinto o cheiro daqueles sons
Que saem do horizonte utópico e colorido
E pareço ter morrido e ter assistido
Ao meu próprio enterro sem choros nem risos
Sem poesia não vivo!
por Elayne Amorim

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá Elayne. Um abraço muito solidário. O Sentimento de vácuo que
transmite neste texto é-me, por vezes, familiar. Se me permite, ela impõe-se por si própria com toda a naturalidade. Nunca nada nem ninguém a irá calar. Um beijo.

Carlos Brunno S. Barbosa disse...

Ah, companheira poeta, sei como te sentes (o momento mais dramático então é esse agora que me vejo sozinho, vendo as nuvens cinzas cercarem o céu antes colorido e, ao meu lado várias atividades burocráticas - diários, provas, contas - pra me entediar, me atropelar de realidades...), às vezes, o verso não vem, a poesia se nega a nos abraçar e cada segundo sem ela é como um minuto de vida a menos... e assim se segue o arrastar das horas incômodas. Mas resistimos e eis que a poesia retorna garbosa aos nossos insanos sonhos concretos e escritos!
Estás de parabéns; como Drummond já o fez, conseguiste retirar um emocionante poema da falta de poema, rs, entraste no seletivo e nobre clube dos grandes poetas que retiram obras-primas até das pedras nos caminhos.