Não tenho filosofia. Eu tenho poesia

Traduzir esperas...


Esperar.
... ... ... 

Espera é ter fome e sede
É ter vontade e ânsia
Uma calma aflição diante do que nada pode ser feito no hoje.















Sei o que quero e espero o momento certo.
Mas, o momento certo é aquele no qual deixo de esperar
E faço acontecer aquilo pelo que eu esperava.
Ora, então a espera não existe.
Esperar
Esperança
Esperar
Com ânsia.

Ela não cabia mais dentro de si. Porém, nada podia fazer a não ser esperar. Depois de tudo ter dito, de todo sentimento revelado, daqueles beijos todos e as reticências que sobraram... Só lhe restava esperar.

Na tentativa de traduzir esperas, esperei um verso.
Minha pena virtual quer escrever coisas que não quero escrever.
Quero traduzir a espera.
E, sentada em meu sofá diante do notebook,
Espera me lembra estática, estar parado, estático.
Então olhei para meus pensamentos-sentimentos:
Eles não estão nem um pouco parados
Eles não gostam de esperar, eles querem sair
De qualquer jeito, a qualquer preço
Nem se importam se vão (me) machucar,
Eles querem sair.                 
Esperei, mas é na nulidade da espera que os versos vêm.
Os cães sabem esperar como ser humano algum ousará algum dia...
A espera humana tange à desistência fácil
Como uma desculpa, diz-se que se espera...
o momento certo                         
o grande amor
aquele emprego
dizer eu te amo
ouvir um elogio
Os cães anseiam como ser humano algum ansiará
Observe aqueles cães de olhos caídos presos em correntes
Ansiosos
Que esperam, muito mais que pela libertação de seus corpos
Esperam o momento de saltarem em seus donos humanos
Enquanto que estes, cansados de si mesmos – cansados de esperar –
Lamuriam-se e enxotam seus cães que lhe esperavam ansiosamente


A Espera Só Se Completa Quando Não Preciso Esperar Mais.

Ela parava à beira da porta, encostada, e esperava.
A chegada.               
Ao cair das tardes, a estrada vazia se completava
Com a chegada.
A espera se esvaía.

Um dia, ela parou à beira da porta, encostada, e esperou.
A partida.
Ao desaguar o dia na manhã, a estrada completa se esvaziava
Com a partida.
A espera se anulava.

O que esperaria mais, agora?
Estradas vazias de esperas repletas de solidões
Mas ela sabia que não mais havia
O como esperar mais nada, não, não daquele sentimento desatualizado.

O tempo não passa.
O segundo se arrasta.
No tique o coração bate
No taque o coração pula
No tique o coração aperta
No taque o coração libera
O sangue
em ondas
de esperas
Espero-te.
Minha espera é demorada e incerta, como todas as esperas. Espero-te e, enquanto te aguardo, lembro de haver guardado em minha língua o sabor dos teus lábios. Minha espera é tencionada, quero-te, porém sem posse, no desassossego das células quase saltando dos nossos corpos, é assim que te quero. Sem ontem nem amanhã. Degustar teu sal com meus poros, sentir o cheiro doce dos teus olhos cheios de hesitação... cheios de expressão... Sem nunca nem pra sempre.
Quero-te. Livre dos advérbios, quem precisa deles? São excessos gramaticais e o único excesso que desejo é o excesso de beijos sufocantes, as únicas palavras que quero são aquelas ditas ao pé ouvido, sussurradas, palavras sórdidas que me fazem arrepiar ...
Quero-te assim... Respirando meu ar, arrancando minha voz, deixando-me sem graça para que eu possa me contorcer, desejar correr e não conseguir.
Até lá, espero-te.
O que é a espera?
É o que sinto quando olho para a segunda-feira e penso na sexta
Porque na sexta-feira há a esperança de te encontrar.
É o que sinto quando olho para aqueles adolescentes diante de mim
E eles me traduzem insatisfações docemente juvenis.
É o que sinto quando olho para meus versos órfãos
Pedindo a proteção dos papéis, de uma noite apenas de autógrafos.
Espera?
É o que pratico na instabilidade dos dias...
É o que faço como ação involuntária na falta de ação prática...
É o meu mandamento tentando controlar a minha ansiedade...
Esperar não condiz com minha alma incontrolavelmente incontrolável

Traduzir espera. Acho que todos nós esperamos alguma coisa. Mas espera me lembra estar parado e isso me incomoda. Sei que, muitas vezes, ela é inevitável. Talvez contrária à ânsia, a espera requer calma, consciência, aquela consciência de que nem tudo – ou quase nada – é pra já, na hora em que queremos, que se buscamos temos que esperar o momento certo para a coisa acontecer. Tenho esperado. Todos temos esperado. É inerente ao ser humano, tão modernamente apressado. Esperamos nove meses para vermos a luz do mundo exterior. Esperamos para crescer e aprender a andar, a correr, a falar, a ler, a escrever, a crescer... Esperamos pela independência da juventude dependente ainda. Esperamos o amor verdadeiro. Esperamos ser felizes. Esperamos nos tornar adultos logo. E esperamos que aposentemos bem e tão logo também. E esperamos... Esperar nem sempre é bom. É necessário, apenas necessário. Não podemos pular etapas, voar de um ponto presente para um ponto futuro, então esperamos o sonho acontecer. Mas viver... Viver é a todo tempo, nunca esperar demais, nunca deixar de esperar. Que nossa espera seja associada à esperança e não a algo abstrato que habita um amanhã que nunca chega. Não, não dá pra esperar uma vida inteira.
por Elayne Amorim

Um comentário:

Carlos Brunno S. Barbosa disse...

Ah, poeta, queria saber traduzir esperas como só tu sabes fazer... Mas não sei... Apenas espero e o verso não me vem... Já disse várias vezes e não temo ser repetitivo (o que é lindo é pra ser adorado no infinito): adoro tuas traduções poéticas, pois traduzem lirismos sinceros que, muitas vezes, meus versos não conseguem trazer.