Não tenho filosofia. Eu tenho poesia

nossos sonhos alheios




Às vezes os sonhos se tornam distantes.
As pessoas percebem que há algo errado,
Mas, o quê?

Eu queria dizer para aqueles que sonham
Que os seus sonhos alimentam almas...

Às vezes a gente se cansa de tentar...
E o cansaço em borra gosmenta
Vai nos atolando num descontentamento conformado
Assim é mais fácil...

animais domesticados... animais domesticáveis...

Eu queria dizer para aqueles que enxergam longe
Que jamais fechem seus olhos, precisamos dos seus olhos
E quando tudo parecer treva, continue a olhar
Pelos seus olhos abertos, outros, a chamarem-no louco
Irão segui-lo...

Às vezes a gente se cansa de falar...
A gente se cansa até mesmo-inclusive da poesia
Mas, de repente, no auge da mais brutal seca
Surge, tímido, um fio de água contínua
Não sabemos aonde ela vai, não sabemos por quê...

E a natureza nos mostra, mais uma vez, que a insistência
Vem de dentro, vem de longe, vem de onde não sabemos

Há dias de sol, há dias de chuva; há dias de muito sol
Há dias de muita chuva...

Quando seu cansaço virar lama e o mundo desaparecer
E os olhos pesarem e os sonhos como estrelas cadentes
Parecerem sumir do céu... estenda a mão, amigo, grite se
Necessário for: alguém estará a ouvi-lo, saiba que um poeta
Não se desespera sozinho; escute: o seu grito despertará
Outros sonhos, outros gritos que gritantes desesperados
Balançarão mundos mundo afora...

precisamos dos seus sonhos
quanto mais o cansaço for maior
precisamos dos sonhos uns dos outros
eles, de repente, em estrelas cadentes, caem
despertando-se para a realidade brutal dos nossos dias...
por Elayne Amorim

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