Não tenho filosofia. Eu tenho poesia

TRADUÇÕES DESESPERADAS...


Meus poemas não passam nem perto do que sinto. O que sinto é intraduzível, inexplicável e tão normal que chega a parecer loucura.
Por que escrevo então?
Até o dia em que alcançar a significação de tudo o que sou...

Traduzir desespero com risos
É estranho
Mas rir também é uma forma de extravasar sua aflição.
Agora mesmo estou rindo de uma lembrança,
Ela é tão boa e me traz socos ao estômago.
Enquanto que uns sentem borboletas, sinto socos.
Fazer o quê, cada qual sente a seu rigor;
Aquilo que me destrói me faz querer sobreviver,
Eu sou assim.

Não tenho paz, busco-a, vejo-a mas ela se estende com o horizonte.
Corro...
Minha alma galopa e não posso mais prendê-la, não posso, não quero, não devo
Deixa-me explodir
Veja-me e não sinta pena de mim
Tenha raiva, tenha ódio, grite comigo
Descubro o que sou, o que sempre fui
Tenho medo de mim porque a única coisa que poderia me segurar
Sente que já não é mais capaz, eu eu eu eu eu...
Não posso mais...
Enlouqueço.      
O que vejo:
Fogo forte e intenso capaz de me consumir sem mesmo me matar
Explodo
Explodo
Explodo

Cheguei ao máximo e mesmo assim não é o máximo, eu sei
Grito e ninguém me ouve
Berro e ninguém me atende
Escrevo e não há quem entenda
Choro e ninguém se importa

Ninguém pode me trazer de volta à vida.
Minha alma não está vazia, ela transborda
E é lindo ver-me derramando pela casa
Pelo chão escuro e gelado,
Vejo-me líquida a escorrer...
A escorrer e o chão seco me repele
Ele não me absorve, continuo
Misturo-me à terra e viro-me lama
Uma lama escura e espessa,
Avermelhada de sangue e medo
De desejo, de desespero e dor
De paixão e não, nem penso na palavra
Que me destruiu e que é a única
Que me trará de volta à vida.

Não voltei ao pó.
O que vejo não é bonito
Mas pode ser tanto belo daqui a um pequeno espaço
Entre o real e a ilusão.
Meu coração dói e não morre
Ele está bem vivo para assistir
À minha autodestruição
E minha autorrecuperação
Cheguei ao limite:
Estou parada em pleno vôo
Entre o céu e o abismo
Onde não há tempo nem espaço
Não há pra sempre nem nunca mais
Não há aqui nem onde,
Não há palavras.
Eu me amo o suficiente para me permitir sofrer sem ter vergonha disso.

Um comentário:

Carlos Brunno S. Barbosa disse...

É incrível a multiplicidade de sensações que registras nas "traduções poéticas" - amo esse tom de desespero não velado veloz revelador que derramas sem pudor (louvados sejam os que sofrem sem ter vergonha disso) nessa seção do blog!