Não tenho filosofia. Eu tenho poesia

Diário da professora

    
            Pois é. Agora, com menos tempo ainda (por causa de muito trabalho, graças a Deus e a quem os arranjou pra mim), minha cabeça fervilha de ideias e parece explodir, pois diante de tanta coisa que tenho vivido, visto e ouvido, elas parecem ter se multiplicado ainda mais.
            Não posso abandoná-las. Nunca! Já disse que é uma necessidade minha e mais, uma necessidade delas, das palavras, das ideias, saírem.
            Aí estou com mais turmas, mais aulas, mais planos, mais criatividade, mais exercício... de paciência, de sabedoria, de tolerância, de amor.
            Quem fala hoje é a professora. Falo por ela, quem ela se tornou depois de tanto tempo... e nem TANTO tempo faz assim, sou novata nesse negócio de dar aulas.
            Eu só queria expor aqui que tenho orgulho da minha profissão, tão criticada às vezes, tão vista como “já que não pôde ter sido outra coisa”. Sabe, é através dela que consegui o que consegui até hoje – e falo de bens materiais mesmo – e o quanto cresci como pessoa. Quem me conheceu na infância ou adolescência não diria que eu seria uma professora – lidar com mais ou menos 400 alunos em média, ensiná-los, ouvi-los. Eu era muito tímida. Mas quando falo tímida, é tímida mesmo, de quase ganhar zero num trabalho de apresentação em sala de aula. Coração disparado, voz afinando, suor escorrendo. Ainda sou tímida, mas estou aprendendo a lidar com isso.
            Sou péssima com piadas, não consigo ser engraçada como alguns professores que são divertidos espontaneamente, mas sou do jeito que sou e a melhor coisa que fiz até hoje foi me aceitar ser do jeito que sou e mudar o que der e precisar mudar.
            Tenho ouvido tão poucos professores falar bem de si mesmos, de sua profissão. Então, resolvi eu mesma falar, expor. Não quero deixar o desânimo alheio me abater. Se algum dia tiver de mudar de profissão, quero que seja por mim mesma, pela descoberta de algo novo e apaixonante pra mim.
            Tento transmitir um pouco do meu amor à Literatura aos meus alunos, a minha paixão pelas palavras, pelo conhecimento. Tento vencer a má vontade, a falta de educação, a apatia que encontro pelo caminho.
            Se alguém dissesse pra mim que pretende ser professor, eu diria pra seguir em frente. Não é segredo pra ninguém que não ganhamos tanto dinheiro, mas temos nossas vantagens. Temos um tempo maior para estar em casa, as férias, os recessos, o prazer das confraternizações, as amizades que construímos pelo caminho... ah, tanta coisa. E o melhor de tudo: nossa mente não para, não para nunca. A cada ano temos que pensar tudo de novo, mas é sempre de forma diferente, atualizada, não existe aula igual a outra, nem que seja montada no data-show e usada dez vezes, ela nunca será igual.
            Dificuldades? Indiquem-me uma profissão que não tenha nenhuma dificuldade. Um médico não entraria numa sala de 40 adolescentes para ensinar a literatura no período renascentista, mas eu muito menos entraria num consultório para diagnosticar um problema de saúde de uma criança, saber que sua vida, sua saúde, pode estar em minhas mãos.
            Ainda tenho essa visão romântica de que as pessoas devem fazer aquilo de que gostam, aquilo para que tenham aptidão. Tem professor que não deveria ser professor. Tem médico que não deveria ser médico. Primeiro a paixão, depois, o dinheiro, porque ser remunerado de acordo com seu trabalho é adquirir dignidade. Por isso lutamos por nossos direitos e todo trabalhador deve lutar pelos seus. Mas não dá pra pautar uma vida feliz longe daquilo de que se gosta, não dá mesmo! Gostei de ver nesta semana que não sou a última romântica do mundo...
            Acho que embaralhei um pouco as ideias nesse texto, mas é como disse antes, muitos pensamentos e pouco tempo pra escrever, e como postei no blog, acho até que fui extensa demais. Lerão mais postagens sobre minha profissão por aqui...
Elayne Amorim

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