Não tenho filosofia. Eu tenho poesia

Essa coisa de ser professor...



Ser professor é também errar.
Frustrar-se por uma aula que não deu certo.
Chegar em casa cansado, com pilhas de provas para corrigir, com séries de provas ainda por organizar, a cabeça cheia de preocupações e vazia de ideias.
Perguntar-se... perguntar-se... perguntar-se.
Entrar numa sala com 42 adolescentes em ponto de ebulição e, com sua voz única, tentar. Com sua presença e presente matéria, tentar. A questão não é só se impor, é mais, é tentar mais. Fazer diferente, o que sempre foi desafiador. E tentar.
E, muitas vezes, se frustrar.
No entanto, ao vê-los, ver também possibilidades. No meio de um texto cheio de erros ortogr'aficos enxergar um belo conteúdo. “Professora, eu não sei fazer”. “Tente”. “Mas vai ficar uma droga!” “Não vai não, tente... ajudarei”.
Eu costumo me perguntar por quê. Ainda consigo me responder.
Ser professor é desafiar sistemas, desafiar maus humores e descrenças.
É desafiar aos alunos, pois eles têm medo de serem diferentes, como se seguissem num mesmo ritmo de uma mesma batida, querem ser aceitos e se padronizam. Ensinar a pensar, a questionar? Ensinar a se sensibilizar? Ensinar a poesia...? Ensinar que é no erro que se encontra a resposta, que se aprende? Ensinar a ver diferente...?
Ser professor é insistir. Rever. Apesar de tudo, acreditar.
Porque, apesar de tudo, há olhares, há gestos, há atitudes, há aqueles que o olham de um modo diferente. Que tentam. Que interferem. Que, de repente, surpreendem-no. Que, de repente, acrescentam algo que você não sabia. Que fazem você querer acertar.
Essa coisa de ser professor é um tal ir além de si mesmo; antes de mais nada, desafiar-se. Talvez coisa de doido, de que não dá pra ficar preso na camisa de força do não-dá-pra-melhorar.
Ser professor é também acertar.
por Elayne Amorim

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