A calma não provém da quietude das
coisas, a calma é como galopar sob a tempestade na floresta densa das
desilusões. Ao olhar várias vezes, sob vários ângulos, para o mesmo desenho,
uma nova realidade poder-se-á ser descoberta, a realidade atrás da realidade,
da falsa. Fechar os olhos pode ser uma nova forma de enxergar. Ampliar os
ouvidos para o silêncio das entrelinhas que murmuram verdades escondidas.
E se deixares a alma livre até de ti
mesmo, da forma que te ensinaram a ser, a como se comportar, se permitires,
ouvirás a ti. As sombras dos teus medos projetados eram bem maiores que eles
mesmos. Estavas perdido em uma caverna cavada sob medida pra ti. Porém,
aprendeste a galopar, assim, intuitivamente. Tombos levaste, é bem verdade, e
mais levar-te-ás. Contudo, não mais cabes neste buraco, ele possui um fim, é
pequeno e apertado aí dentro, é frio e escuro, engana teus olhos ávidos por luz
– não por sol, mas por luz – aquela que invade a treva branca com que taparam
os olhos teus.
Agora, tem paciência. Estás a
descobrir segredos sobre o tempo, estás a encontrar lugares escondidos por onde
todos os dias tu caminhavas e nem te davas conta. Sim, estás a viver em tempos
difíceis e sabes, não é apenas este tempo em que dizem que o mundo poderá
acabar, em que a desigualdade assola os seres humanos, em que os sentimentos
estão sendo violentados e banalizados -
não, os tempos mais difíceis são estes a atravessares por dentro de teu
ser infinito, a quebrar antigas crenças inúteis, a rasgar tua pele nas paredes
das rochas antes duras demais, a rocha que antes te prendias e, agora, já não
mais te prendem. Tu sangras, é verdade. É suscetível a ti mesmo o sangue que
escorre, a tua cara quebrada, teus tombos... é visível. Porém, sabes que as
paredes têm de ser quebradas e elas lutam contra tua própria força e a força de
que precisas sabes bem onde encontrar.
São daqueles caminhos sem volta. Só há
passagem de ida e a continuidade é vital, não podes mais parar. Tu rumas à
realidade, à real, à impossível, talvez até mesmo à improvável. Se tentarem te
queimar outra vez, lembra: estamos em outros tempos, agora. Por isso permanece
no agora, pois só tens agora, nem antes, nem depois. Estás a galopar sob
tempestades... permanece no agora... Não permitas que os medos sejam maiores,
são sombras; o passado são lembranças, não pode te alcançar; o futuro traçado
está nas mãos do Criador da eternidade; apenas galopa e vá de braços abertos
contra as cercas que ainda tentam te segurar. Tu bem sabes voar e sabes
disso...
por
Elayne Amorim
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