Não tenho filosofia. Eu tenho poesia

Sobre filosofias (simples, simplórias ou complicadas)

Um poema filosófico? Não. Só mais uns versos inquietos de um poeta quando olha pro mundo lá fora de seu mundo...


Mas é exatamente destas coisas – coisinhas insignificantes –
Que falo canto poetizo
Que tu desprezas
Tu – oh, tu! – procuras insondáveis coisas paradigmáticas
Nos universos político-sociológico-antropológico-racional-humanos
Coisas.
E eu – inotada eu – vejo um homem que procura nas filosofias complicadas
O sentido de sua vida banal.

Acabar com a fome. Com a miséria.
Com o descaso. Com a humilhação.
A corrupção. A pedofilia. O desmatamento.
O crime organizado. O de colarinho.
O de galinhas. Com o desemprego.
O analfabetismo. A prostituição. O preconceito.

Mas não, tudo isso é fruto da invenção do homem.
Ele criou, ele tem que descriar.
Não que não me importe – aliás, inquieta-me –
Mas tudo isso é invenção humana.
Porque quando falo das coisas – das coisinhas que tu desprezas –
É exatamente no que mora por trás delas
Que existe a inacriação, o desfazimento, o desvaziamento.

E o valor das coisas se perdeu.
O valor do homem se perdeu.
A natureza não é má – nem boa
Ela apenas é.
O que é uma árvore senão uma árvore
E pra mim já é coisa viva com a qual converso
E respeito de sabedoria terrena antiga.
Escuta o diálogo das folhas.
Como desejar a morte a um pássaro cantor
Se dele se extrai sabedoria de ventos?
Porém, tu não compreendes.
Meu poema tornou-se dialeto para tuas filosofias complicadas.

Complicado mesmo não existe.
As coisas são o que são.
Discutir o valor de um homem
É discutir o valor de uma vida humana
- e isso poderia ser falar do valor da vida
De teu pai, de tua mãe, de tua namorada,
De teu amante, de teu patrão, de tua própria vida –
Como então acabar com as misérias humanas
Se o homem não sabe o seu valor?
Acaso se mede o valor de um homem?

Poderia pesar como um conceito
- poderias estar a passar fome agora
E alguém discutindo o teu destino no senado,
Mas o senado é composto por homens que não passam
(que não passaram) fome –
Eis aí um drama.

E poderíamos ser tão mais do que somos!

Ser tão melhores com menos papéis e mais vozes
Porém jogamos no lixo pessoas como se jogam esses mesmos papéis
E calam-se as vozes.

Não compreendes?
Achas muito complicada minha filosofia?
Ora, não é filosofia, no mais, uns versos
Ao som de violino relembrando tua angústia para com o mundo...
Para com este mundo.
Eu vejo maldade demais no homem
- dizem que já fora pior, eu não me lembro –
E não vejo maldade na natureza que ele tanto despreza.
Que tu tanto desprezas.
Passarinhos livres trazendo-me ventos
Chuvas que me trazem relâmpagos
Cavalos que me trazem asas
Sons que eu decodifico em palavras
Focinhos que alisam minha alma...

Mas tu não vês essas coisas.
Não vês que o homem se dissipou
Se anulou, se desvalorizou, se minimizou
E se iludiu.

A filosofia quer nos levar ao óbvio.
Tua visão de mundo é tão igual a minha
Porém prefiro dizê-la desdizendo
Retornando o processo
E onde achas que nem uma novidade mais há
É lá, podes me procurar, pois é lá que estarei
E lá encontrarás minha filosofia simples
- a qual qualifica, talvez, simplória –
Que seja.
As coisas são o que são.
O homem é o que é.
Sou o que sou.

Sei que meu valor não é mais que a pedra
Ou a folha
Pois extraio poesia delas
Como extraio poesias de almas
E – se de tudo o que se extrai poesia é vivo
E tem valor –
Tudo, do ínfimo ridículo ao maioral belíssimo,
Pertence a um universo irracional
Acima das filosofias – sejam elas simples,
Simplórias ou complicadas –
Um universo incalculável de grandezas
Do qual insistimos em não fazer parte.
Preferimos cultivar nossas misérias
A simplesmente sermos o que não somos.
por Elayne Amorim

Um comentário:

Na Boca do sapo disse...

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