Não tenho filosofia. Eu tenho poesia

Eu quero a estrela da manhã!


Por estar trabalhando muito, principalmente em final de bimestre, deixo o blog e os leitores à solidão das antigas postagens. Isso não significa que os eus líricos estejam quietos, muito pelo contrário, à pressa dos dias e à falta de tempo, eles se mostram muito revoltosos e me obrigam, em meio ao cansaço e tropeço nas palavras, a me sentar e digitar... ou escrever.
Esta de ser professor ocupa tempo, chego em casa por vezes muito cansada mentalmente e apago ao relaxar um pouco ou tenho mesmo que dormir, pois acordarei cedo no dia seguinte.
Mas hoje, por que não? Pequenos momentos que me causaram certo encantamento pela profissão, por mim, como professora, como pessoa. Que leitura foi aquela de um aluno meu, do 9 ano, do poema de Manuel Bandeira, “Estrela da manhã”?
Numa sala apertada com quase 40 alunos alvoroçados nos dois últimos horários da aula de artes... A estrela da manhã me salvou. A estrela – o aluno que tão bem representou – a estrela da manhã numa manhã de quarta-feira, lá pelas onze e meia...
Às vezes o desânimo se abate sobre nós... Oh, profissão paradoxal! Entre seres reais e números; entre situações reais e conceitos abstratos; entre o antilirismo marcante na vida dos adolescentes e a... estrela da manhã!
E, na declamação do poema, a turma toda vibrou, sorriu, aplaudiu... Fixei-me naquele momento, porque , às vezes, tudo de que preciso é da estrela da manhã Pura ou degradada até a última baixeza, eu quero a estrela da manhã... Procurem por toda parte...
Por isso, hoje, trago a vocês a “Estrela da manhã” do poeta moderno Manuel Bandeira. Cada um de nós possui a sua estrela da manhã que não pode nem deve nunca ser apagada dentro do coração. Sistemas? Caras feias? Má vontade? Cansaço? Descrença? Paradoxo? Eu quero a estrela da manhã!
E depois colamos cartazes pelo colégio com pedaços de versos que falavam de amor, de homens, de estrelas...

Eu quero a estrela da manhã
Onde está a estrela da manhã?
Meus amigos meus inimigos
Procurem a estrela da manhã

Ela desapareceu ia nua
Desapareceu com quem?
Procurem por toda a parte

Digam que sou um homem sem orgulho
Um homem que aceita tudo
Que me importa? Eu quero a estrela da manhã

Três dias e três noites
Fui assassino e suicida
Ladrão, pulha, falsário

Virgem mal-sexuada
Atribuladora dos aflitos
Girafa de duas cabeças
Pecai por todos pecai com todos

Pecai com os malandros
Pecai com os sargentos
Pecai com os fuzileiros navais
Pecai de todas as maneiras

Com os gregos e com os troianos
Com o padre e com o sacristão
Com o leproso de Pouso Alto

Depois comigo

Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas
comerei terra e direi coisas de uma ternura tão simples
Que tu desfalecerás
Procurem por toda parte
Pura ou degradada até a última baixeza
eu quero a estrela da manhã
por Elayne Amorim

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Elayne, boa tarde. Gostei imenso da sua introdução a este poema. O próprio poema também é magnifico. Muito obrigado por tudo. Um beijo.