Não tenho filosofia. Eu tenho poesia

Onde estou

Procuro-me por cada esquina da não realidade. Porque onde estou sempre me nego. Bato de frente com quase tudo. Não aceito. Às vezes não sou eu falando; não sou eu escutando. Se sigo o fluxo minha pele descola-se e as dimensões partem-se. Minha ferocidade me sufoca; minha paixão me afoga; minha pressa me apavora. Persigo-me. Quero estar apenas onde meu coração está. A paz que eu quero está nas asas de um condor. A liberdade que eu quero está nas patas de um cavalo. O amor que eu quero está no pulsar do lobo. A pele que abriga minha alma também pode ser a casca de uma árvore; os pelos de um felino; a superfície de uma gota. Quando a natureza morre, morro junto com ela. Cada vez mais. Cada vez mais o tempo me absorve pra ele; ele, que me acorda todas as manhãs; ele, que me mostra as estações do ano, a Terra se transformando, minha pele se modificando. Ele – que é tudo o que temos e do qual nada nos resta. O tempo. Ele me fala para não me perder de mim. Ele fala pra eu continuar porque ele não pode parar, ele nunca vai parar, a eternidade sempre vai girar e esta forma vai se transformar... vai se transformar... no que há de sempre melhor, se eu deixar...

Elayne Amorim

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