Não tenho filosofia. Eu tenho poesia

O prazer de ser professor...

Gostaria que lessem essa postagem, pois, se nem tudo são flores, nem tudo são espinhos. Hoje trago um desabafo cheio de prazer, já com gosto de saudade e com forças - exaustas a essa altura - já se renovando também... Sim. Há muito mais coisas boas que ruins e é por isso que escrevi hoje - as emoções do dia, dos últimos dias, dos últimos meses... Minha controversa profissão, cheia de infernos e paraísos...

Pois é. E vem chegando o fim… de um bimestre. De um semestre. De um ano letivo. Nós que lecionamos em turmas concluintes já começamos a sentir aquele gosto de saudade antecipado... Sim, é emocionante vermos aqueles jovens eufóricos e sedentos pelo término de mais uma etapa de suas vidas, loucos pelas férias – agora eternas – das carteiras de um colégio. Rumam à faculdade – quantos passaram, que gratificação ver alunos de colégio público passando em ótimas colocações nos vestibulares!! Rumam a concursos públicos, ao trabalho, à vida que começa a florescer adulta pra eles... Esse clima controverso de partida e conquista é muito bom e muito emocionante para nós professores.
Olho para trás – o passado de há pouco revela um caminho que valeu a pena, um caminho muitas vezes árduo – aulas que ficaram por ser dadas, cobranças àqueles que estavam desanimados, contratempos de todos os tipos, as famosas “coisas da educação” que fazem dela essa estrada de mão dupla, repleta de flores e espinhos, de progressos e retrocessos, de lágrimas e risos...
De repente, chego em casa e um recado tão amável de agradecimento de uma aluna no Facebook... Ao terminar de corrigir uma prova, outro recado à tinta, de outro agradecimento... E tantos olhares e tantos sorrisos de alunos e alunas que te reconhecem... professor e conseguem ver que ali mora um ser humano. Isso é muito bacana – não, isso é muito, muito bom... Isso renova nossas forças neste finalzinho tão demorado e cansativo para ambas as partes.
Saber que você participou da vida de tantas pessoas, que eles carregam um pouco de você e você, um pouco deles. Saber que aquilo que você ensinou, ele aplicou, e funcionou... “bem que você disse, professora, que esse assunto caía...”, “ah, eu usei aquela técnica de redação, me ajudou, valeu...”.
Aí está, esta profissão paradoxal – como não haveria de ser! Minha profissão paradoxal – que nos levam ao céu e ao inferno, há dias em que dá vontade de largar tudo e sair correndo e, em compensação, dá vontade de abraçar a causa ainda mais.
Estou muito satisfeita com meu trabalho – vejo o quanto dá pra melhorar e vejo o quanto melhorei e me superei...
Estou a cada dia com mais gana de lutar por ela, de fazer valer aquele diploma que tenho tão bem resguardado no meu armário – novinho... como no dia em que o recebi emocionada. Não, eu não imaginava que essa aventura seria tão grande, tão cheia de percalços e felicidades, que iria me tornar cada vez mais uma pessoa melhor.
Lembro-me daquelas turmas em que estive de passagem – a famosa GLP que nós pegamos durante o ano. De passagem mas que marcam, marcam demais como um segundo ano que tive sob meus “cuidados” e tão pouco tempo juntos e tão cheio de imprevistos no quarto bimestre... Uma turma de formação de professores... que gratificação...
Não é um balanço geral... são desabafos – e prazerosos desabafos – afinal, costumo postar e sempre postarei as coisas que não andam bem e precisam mudar ou melhorar... No entanto, as coisas boas devem ser postadas, é claro! E minha profissão é muito amada por mim, por isso a abraço e luto por ela.
Ela me fez chegar aonde cheguei – como profissional e como pessoa – e sei que continuará a acrescentar mais e mais em minha vida. Outro dia ouvi uma colega dizer com pesar que essa profissão está em extinção – devido ao grau de sua desvalorização, seja financeiro, seja como profissão mesmo, ao desrespeito de alunos e outras pessoas em relação a nós... Acho que isso só será possível se nós mesmos não buscarmos nosso valor, nossa satisfação, se desistirmos de lutar, se não nos impusermos como o que somos – profissionais indispensáveis a qualquer sociedade que queira se desenvolver de verdade.
Se eu tiver de incentivar a alguém a ser professor, incentivo sim, claro! Não existe profissão fácil, o que existe é a vocação e o amor que se tem por ela...
Minhas palavras talvez tenham ganhado um tom utópico, mas acredito e vivencio cada coisa que digo – tenho meus dias de maré baixa, sim, mas também tenho meus dias de tsunami. Enquanto professora for, quero dar o melhor de mim, quero continuar a ver a vibração desses jovens, a esperança em seus olhares – porque o que é mesmo triste é ver um jovem sem perspectiva, desanimado com seu próprio futuro, sabendo que ele tem tanto a dar e só ele não percebe...
Sim, são essas alegrias baratas, cotidianas, fáceis... que me arrancam sorrisos fáceis. Ah, tenho sim muito o que melhorar. Sou aquela professora de Literatura e Português (quem me conhece sabe porque coloquei Literatura na frente... rs) e ainda faço alunos dormirem falando de poemas antigos-tão-atuais, mas cresço... cresço a cada dia porque quero, porque me permito... porque a minha profissão me exige isso.
O que nos move são as nossas utopias, não tenha uma e não terá uma razão por viver, por lutar, por levantar mais um dia e sair de casa para nadar contra a maré do mundo... Eu gosto de nadar contra a maré...
por Elayne Amorim,
a professora de Língua Portuguesa e Literatura.

2 comentários:

Rosemeri Rocha disse...

Nossa Elayne!
Que lindo!
São pessoas como você que me fazem ter a certeza que "combati um bom combate"!!
Guarde meu carinho
Rose Rocha

Anônimo disse...

Em meio a tantos "conselhos" de professores mais antigos que recomendam abandonar a profissão é revigorante ler suas palavras