Estive pensando em quantas coisas
aprendi, relembrei e aperfeiçoei neste ano. Como é bom poder crescer, rever
conceitos e teorias, saber algo novo a respeito de assuntos velhos. Rever-se.
Revisitar-se. Questionar as próprias atitudes e discursos, superar as
adversidades. Como refleti (e ainda estou a refletir) sobre minha profissão e o
que realmente me faz não querer abandoná-la. Talvez seja essa coisa de
aprender. Essa coisa de se renovar sempre e ter de seguir o fluxo do
conhecimento, que é infinito e infinitamente sedutor.
Errei muito, isso é certo. Tentei fazer
o melhor, mas agora vejo que ainda poderia ter sido mais. As dificuldades do
caminho da educação aumentaram muito e prometem aumentar um tanto, porém, há
aquelas invisíveis, que colocamos diante de nós mesmos, pois, ser professor é
superar-se, adequar-se, reinventar-se. Não é um trabalho manual que se repete,
não é algo que se possa ser avaliado com ‘produtividade’, como se você
produzisse coisas, porque não depende só de você. Você forma pessoas. Você
‘produz’... pessoas formadas? Não sei. Só sei que não depende só de você, então
o esforço é maior, pois, produzir coisas, preencher papéis depende de você, da
sua vontade e da sua motivação.
Pensei muito no que me motivava ir ao
colégio e entrar numa sala de aula. Não são apenas as contas, oh, não. Há mais.
Porque se não houvesse mais, eu já teria abandonado tudo isso. Lidar com
pessoas não é fácil. Lidar com pessoas que, muitas vezes, não querem aprender
não é fácil. Tentar fazê-las enxergar o fascínio que há por trás das palavras
quando não veem nada além de letras chatas... letras sem sentido de escritores
loucos que não fazem sentido...
Pensei se elas – as palavras – também
não tivessem se tornado um amontoado de letras chatas e as vozes do
além-literário já não mais fizessem sentido para mim. Ando meio emburrada com a
poesia. Mas acho mesmo que andei com medo dela. Essa coisa de ver, de ouvir, de
sentir que ela possui, sempre me trazendo a mim. Sempre me mostrando um mundo
por trás do mundo. Ela me cobra. E ela muito está a me cobrar, pois em muitas
aulas minhas deixei que a mecanidade proposta das teorias modernas sobre
educação me dominassem, me tirassem do sério e me fizessem angústia.
Mas a minha própria profissão, meus
colegas, as teorias, as críticas, os elogios, os erros, os acertos, tudo, tudo
isso me trouxe de volta a mim e me aponta, e me mostra o caminho que, por
vezes, esqueci ou abandonei. Caminho este mágico, dentro de um apesar de tudo,
caminho este louco, por ser formado da matéria onírica, embora o sistema
educacional – ao ver de muitos – esteja falindo rapidamente. A meu ver também,
em alguns aspectos. Porém, é lá, dentro da sala de aula que eu – professora –
posso escolher que caminho trilhar, como ensinar, como tentar atrair... O que posso
oferecer? Conhecimento? Pouco, dentro de sua infinitude; muito ou tanto, para
aqueles que têm sede, mesmo que inconscientes. Mas há o maior, aquilo que mais
possuo e aquilo que me trouxe até aqui: a poesia. Ora, minhas aulas tinham bem
mais poesia, pois eu falava com o coração e passava a crença de que aquilo era
verdade. E era, pois acreditava.
É essa coisa de saber mais, de
re-aprender todo dia, de dinamismo desafiador: isso é o que me prende, o que me
atrai. Isso de ser humano, de ser professor. Aquele que dissemina ideias e,
portanto, multiplica o conhecimento; e por multiplicar, acabo recebendo ainda
mais os reflexos das sementes que jogo. As sementes-palavras das quais não devo
ofuscar o brilho.
por Elayne Amorim
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